segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021


 Uri, o que é um relacionamento abusivo?
Então, para introduzir o tema, primeiro eu preciso entender o que é abuso.  O termo indica um comportamento inadequado, excessivo, contrário a liberdade, igualdade e à harmonia. Pressupõe-se uma relação de desigualdade de poder, seja esse poder uma força física, um discurso manipulador racional ou uma chantagem emocional. O abuso pode ser explicito ou subliminar e ainda pode ser não reconhecido tanto pelo abusado como pelo abusador, o que não o exclui de responsabilidade é claro!
É um fato que em todas as relações humanas existe um grau de desigualdade, de diferença. Viemos de famílias diferentes, de criações e experiencias diversas, logo temos nossa forma peculiar de ver o mundo. Quando entramos numa relação, para que ela seja saudável, vez por outra somos flexíveis uns com os outros para que o vínculo tenha continuidade, para que se construa algo novo a dois, e quando falo a dois incluo toda as relações familiares, de trabalho, amizade e amorosas.
Mesmo tendo em mente que nessas relações os sentimentos têm que ser recíprocos, mas dificilmente serão simétricos, essa assimetria não deve ser suficiente para causar dor em nenhuma das partes. Quando falta flexibilidade na aceitação dos seres e de suas condutas e/ou há uma assimetria muito grande dos sentimentos, nasce o abuso.
Sempre há uma tentativa de fazer o outro ser o que se deseja e não quem ele é de verdade. Porém, há de se colocar que como falamos em texto anterior, o ser alguém não permite que esse alguém use isso como desculpa para manipular e maltratar o outro. Quando penso na flexibilidade é exatamente nesse sentido: eu sei quem sou, tenho uma identidade, mas em nome da relação e do sentimento, mudo porque quero para ter uma vida mais feliz e em paz e sim, é porque eu quero e não porque o outro exige, esse outro pode, e deve, sinalizar o incomodo para abrir o diálogo de mudança.
Enquanto o relacionamento saudável pressupões respeito e liberdade, o abusivo vira uma prisão, a pessoa que sofre o abuso se sente triste, diminuída, sem autoestima, sem senso de autoeficácia; perde o amor próprio e isso é a engrenagem que perpetua o abuso.
Esse abuso pode ser explicito e claramente observável quando físico. Pode ser em forma subliminar e sutil com comentários simples do tipo: “como você engordou, vai usar mesmo essa roupa?” “homem como eu você não vai encontrar mais nunca”; não sei como alguém pode aturar seus defeitos... só eu mesmo para ter essa paciência.” “Serio que você não quer sexo hoje? Achei que homem sempre estava pronto pro sexo...” São sempre críticas que diminuem o outro, que fazem ele se sentir inferior.
Ao lado do abuso, o abusador sempre faz algo de bom, diz que ama, dá presentes, proporciona viagens, é outra forma de aprisionar também, a lógica que passa na cabeça do abusado é: sou tão inferior, ninguém vai me querer mesmo, e ele/ela ainda faz isso tudo por mim, tenho que aguentar mesmo.”
O abuso pode ou não ser reconhecido. A depender do meio social, da cultura e das experiencias de vida das pessoas eles repetem padrões de abusadores ou de abusados sem perceber, até buscam esse tipo de relacionamento pois não conhecem outra forma de se relacionar. Daí a importância do autoconhecimento e da informação. Com essas ferramentas podemos entender se estamos sendo abusados ou abusadores e parar com o ciclo da tirania da dor.

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