quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Algumas pessoas nascem, outras são abortadas





 Querido Uri, Tem dois anos que tenho esta carta guardada, mostrei a algumas amigas ao longo desse tempo e elas ficam sempre preocupadas comigo. pensam que eu estou com depressão, que eu posso fazer älguma doidera como elas dizem, mas isso embora tenha passado ha muito na minha cabeça hoje em dia não mais. queria uma opinião sua.

“Algumas  pessoas nascem, outras são abortadas.
Algumas pessoas não nascem, são abortadas mesmo continuando vivas. Nascer é ser querida pela vida. É se conectar com o  mundo, é dar um grito e respirar, é ser querida, amada, desejada, bonita. Eu não nasci. Fui abortada. A vida nunca me quis. Ninguém nunca me quis. Eu nasci pesada, triste , feia, lenta, sem vontade.
Pra mim tudo sempre foi avesso. O rio sempre correu ao contrario. Sempre estive no negativo da foto, nunca fui revelada.
Algumas pessoas nascem, elas cabem no mundo, elas facilmente pertencem a um família, a um grupo, a uma cidade a um pais, elas torcem pra um time, tem amigas, vão ao shopping, paqueram os garotos e são paqueradas de volta. As pessoas abortadas ficam assistindo essas coisas afastadas, em terceira pessoa, como se um vidro as separasse de todo o resto. Desgrenhada, descabelada, olhando as outras meninas lindas com suas passadeiras vermelhas e seus cabelos lisos negros brincando no parquinho que nunca era acessível, nunca, nunca......
Eu fui abortada, nasci geneticamente triste, minha vida nunca teve cores, apenas tons de cinzas e promessas não cumpridas como aquela boneca que falava umas duas besteiras que todas, todas as meninas conhecidas tinham, menos eu. –shyrlley, você não é todo mundo! Não sou mesmo. Eu não nasci. Eu fui abortada. Fui abortada negra, lésbica, gorda, feia, burra, lenta, doente mental, numa sociedade de exclusão.
As pessoas normais, as que nascem, tem suas experiências no tempo certo. Eu nem sei se tive experiências. Eu tive traumas. Fui roubada literalmente, fui estuprada, fui roubada de mim mesma, tive meus sonhos destruídos, tive a mim mesma destruída, virei um mostro, virei um lixo, desci num poço, desci mais ainda, virei mais lixo, quase morri, quase morri duas outras vezes, deixei de me importar, voltei a me importar e me decepcionei por me importar.
Fui abortada e me acostumei com isso....
A vida não me quer, nunca me quis, mas eu não quero desistir, afinal tantas outras pessoas são abortadas e continuam caminhando ai no limbo.... Vida, quem é você para me querer ou não?
Pelo menos um dia no ano você não pode fazer chacota de mim, pois no dia 2, eu tenho os mortos e eles não são seus, eles não são vivos, eles foram de vez abortados  de você sua desgraçada!”

Shyrlley minha linda, te peço que entre em contato com o telefone que te mandei pelo e-mail, de preferência ainda hoje para conversarmos um pouco. que tal?? grande abraço!!!


domingo, 29 de maio de 2016



Confiança

“Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas”

Confiar é uma construção complicada, mais complicada do que uma casa, do que um verso, as vezes até mais complicada mesmo que a própria vida, pois é a base de todos os relacionamentos que travamos.
Somos feitos de confiança, aprendemos desde cedo a confiar em alguém que cuida de nós, dada a nossa incompetência de nos cuidar sozinhos. Pais, mães e cuidadores, seja lá quem for que exerça a função de cuidado, aos poucos vão nos dando uma base de sustentação do que vamos posteriormente chamar de confiança. Confiar é creditar a alguém algo que nos é importante. No caso do bebê é confiar tudo, inclusive a própria vida. Depois, ao logo da vida, vamos depositando confiança no bem querer, no amor, no cuidado que os outros nos fornecem. Se as coisas fossem assim tão fáceis que lindo, mas na verdade não são.
A confiança nem sempre é construída da forma que deveria, com os ingredientes que seriam necessários e ai, a frustração é a consequência mais provável de se realizar.
Um primeiro ponto: ter simpatia por alguém não significa que essa pessoa é de confiança, logo, não pense, não fale e não haja como se vocês fossem amigos de infância. Vá de vagar, conheça quem é essa pessoa com quem você inicia uma relação, seja ela de que nível for. Não importa se no amor, na amizade ou em uma relação de trabalho o que importa é o processo.
O tempo corre, o capitalismo nos comanda sermos rápidos e diligentes, MS na verdade isso de pouco importa em termos de qualidade. Pessoas são surpresas indescritíveis. A cada dia, a cada humor, a cada fato que acontece em nossas vidas reagimos de determinada forma e nem sempre seremos aquilo que os outros esperam de nós. Cada um, com sua história de vida traz uma bagagem imensa de tudo que lhe aconteceu e não o que esperamos que ela tenha trazido. Se sem pensarmos nisso depositarmos a confiança absoluta nessas outras pessoas, com certeza iremos nos magoar e magoar o outro Tb: “ ahhh, eu tinha pensado que você era isso, que faria aquilo” o outro percebe a decepção, se chateia e o pior, se sente desqualificado por não ser aquilo que esperavam dele e ainda mais dolorido por saber que aquela pessoa nunca se relacionou com ele de verdade e sim com uma projeção, com uma idealização louca que nunca existiu.
Será assim tão difícil entender que o outro é o outro e não uma continuação de nós mesmos?
Um segundo ponto: seja verdadeiro. Não importa como você seja, mas seja vc. Se você pretende confiar em alguém é bom, que a pessoa possa confiar em você em troca. Relação é dois ou mais, quer se relacionar com você mesmo? Passe mais tempo só. Se isole num mosteiro, vá para o Tibete. Não adianta inventar uma personagem para agradar e conquistar a confiança do outro. Isso demonstra falta de amor próprio, falta de autoestima e autoconfiança. Ninguém agrada a todos e nem precisa. O mundo esta cheio de gente pronta para nos aceitar como somos.
Só vamos tomar cuidado para não transformar sinceridade em sincericídio. Tem coisas que não precisam ser ditas para não magoar o outro, para não gerar desconforto, nem ciúmes desnecessários. Pra que dizer para uma pessoa que você acabou de conhecer que você roubava chocolate nas lojas americanas? A não ser que você ainda faça isso e não pretenda parar não existe necessidade de contar isso. O relacionamento se baseia no que você faz hoje. O ontem existiu? Sim, mas ficou lá, é aprendizado, é experiência e sim, é importantíssimo para que possamos ser quem somos hoje, afinal, somos o produto da somatória de nosso passado.
Terceiro ponto: pare de agir e exigir do outro coisas absurdas. Ninguém é propriedade de ninguém, logo, não exija demais, senão o outro vai ser forçado a mentir para vc. Fora os mitomaníacos, que vão mentir compulsivamente para todos, as pessoas mentem para as outras porque o outro não deu espaço para que a verdade fosse dita. Ou cobra demais, ou critica demais, ou poda demais. Para se ter a confiança de alguém é preciso dar espaço para que essa confiança surja, cresça e se solidifique.
Quarto ponto: insegurança mata qualquer relação. Se não se sente seguro de si mesmo, vá procurar uma ajuda com amigos, parentes, psicólogos, religião, pouco importa, mas aprenda a confiar em você mesmo. Quem não tem confiança nas próprias qualidades e defeitos nunca vão ser capaz de obter a confiança do outro.
E por fim, viva, se divirta e se relacione. De preferência com pessoas reais, com o que as pessoas apresentam para você e não com fantasias e expectativas. Confiar é difícil, perder a confiança muito fácil, mas também não esqueçamos que todos merecem uma segunda chance.

sábado, 16 de abril de 2016

Quanto custa um ser humano?




Num primeiro momento eu diria que um ser humano é invalorável, mas observando o cotidiano vejo que as coisas não são bem por ai. Diversas formas de valoração existem, dinheiro, sentimento, status, masculinidade, capital intelectual, enfim, no fim das contas talvez seja o ser humano uma das coisas mais valoráveis que existem.
Pensar em valores sempre remete a comparação ou a condição de troca. Comparação no sentido de julgar o que é melhor ou pior e condição de tr
oca no esquema de o que eu posso ter em troca se eu te oferecer isso ou aquilo.
Algumas pessoas me dizem se sentir ofendidas com isso, quando alguém tenta de alguma forma oferecer presentes, facilidades ou até mesmo dinheiro para tentar conquista-las, seja amorosamente, seja em outro âmbito da vida. Mas quando eu paro e penso me vem uma pergunta na mente: porque será que essas pessoas usam deste tipo de estratégia particular para se aproximar das pessoas? Um amigo uma vez me disse que fazia isso porque era a única coisa que ele tinha para oferecer. A extrema baixa estima dele o levava a pensar que ele  era feio demais e desinteressante demais para conseguir alguém se não fosse a traves de uma troca  monetária. O paquera dele tinha uma mulher e um filho, que este meu amigo sustentava e dava casa. Em troca o paquerinha ficava com ele alguns momentos na semana, faziam sexo, as vezes conversam um pouco, outras brigavam pela falta de carinho e cuidado( e até pela falta do beijo na boca) por parte do paquera.
O sentimento de desvalor que uma pessoa tem muitas vezes as leva a usar de estratégias confusas para atingir um objetivo. a esse amigo nunca passou pela cabeça investir em si mesmo. Num curso de alguma coisa, numa academia, num tratamento de pele, sei lá.qualquer coisa que fizesse com que ele se sentisse melhor e apto a conseguir uma relação com base em trocas amorosas e não monetárias.
Outros pelo contrario investem tanto em si mesmos de acham que devem ter um retorno com isso. Aproveitam-se de seus corpos, de sua condição de “machos de verdade” e quando não são categóricos em termos de valores, adoram ir ao shopping comprar uma roupinha, fazer uma viagem, ir numa festa cara tomar bebidas absurdamente caras. Com esses o mundo não é menos cruel não. Um dia, a idade chega o corpo não é mais o mesmo, a masculinidade já não é tão marcante e mesmo que seja, sempre tem carne nova no mercado e, como diz o discurso capitalista, pra que ficar com algo se existe outra coisa melhor, mais avançada ou mesmo mais nova no mercado? Com a passagem dos anos essas pessoas se tornam como as primeiras, se sentem desvalorizadas, inaptas, infelizes. Os inteligentes ainda conseguem ter uma poupança dos tempos áureos, os outros nem isso...
Ainda vislumbro um terceiro tipo que chega próximo ao primeiro, mas não com tanta força. São pessoas que são sim interessantes, que são sim belas, atraentes, mas que desejam ser outras pessoas que não elas mesmas. Desejam estar em outra classe social, em outro grupo de amigos, usar outras roupas, falar outras gírias. Uma pena, quem não reconhece o próprio valor se perde para si e para o mundo.porque não se aceitar, procurar um grupo de pessoas mais compatíveis? Uma amiga Xamã uma vez me disse a seguinte frase: Uri, é muito difícil encontrar um vegetariano em uma churrascaria, quem quer achar pessoas compatíveis tem que buscar nos lugares certos.
Enfim, melhor do que presentes é  ter carinho, respeito e consideração. Melhor que dinheiro é amor, é cuidado, é parceria. Mas para que se possa dar valor ao que realmente importa é preciso se amar e se dar valor antes de tudo. Quem não se ama não vai se sentir amado nunca, quem se acha inferior não vai nunca aceitar uma dádiva da vida.  E de verdade, pelo menos na minha verdade, o verdadeiro valor de um ser humano, não se mede com referencias objetivas. O verdadeiro valor de uma pessoa se mede pela falta que ela nos faz na vida, pela saudade que sentimos, pela dor de não poder trocar uma palavra, dar um abraço, ver um sorriso estampado no rosto.
Quer conquistar alguém? Seja você mesmo. Quem ficar merece estar ao seu lado, quem não ficar não deveria nem mesmo ter aparecido em sua frente!!!
Amor sempre,

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A triste história de W e M e de muitos outros por ai........



Acho muito triste como as pessoas se perdem ao longo do caminho. Tem gente que diz desejar tanto, mas que de tanto desejar termina perdendo as coisas mais importantes de sua vida.Fico muito triste ao ver  uma pessoa jogar fora a felicidade de duas e por nada....nada.
Um belo dia W. Encontra um cara lindo, charmoso, inteligente, divertido, dentre outras qualidades. Rola uma química, um desejo e tudo mais e eles se conquistam e se tem de forma muito bonita. M. é um cara muito feliz ao lado de W. ate que seis anos depois W. deslumbrado com a vida pede para abrir a relação. Diz que esta cansado de brigas e do cotidiano e que vai ser muito melhor trazer novidade para a relação.
Desde quando novidade precisa ser uma terceira pessoa?Não dava para fazer uma viagem, tentar um sexo tântrico, fazer terapia de casal? Não que eu seja contra relações abertas, mas sei, que relações abertas prescindem de muita maturidade, maturidade que muito pouca gente tem, além de muito amor, muita entrega, muito autoconhecimento. No caso em questão W. tava afim mesmo de exercitar o discurso capitalista: “ ah, se eu tenho e o mercado me oferece várias eu preciso de todas elas!!!”não basta ter o tênis do momento, as pessoas querem o mesmo modelo de varias cores. Não basta o computador super , hiper, mega rápido X se o mercado acabou de lançar o XZ3, que é muito mais rápido e me oferece milhões de vantagens que eu não vou usar nunca, porque eu não preciso de nada disso no meu dia a dia.
No fim das contas, não basta ter o namorado do seus sonhos( e do sonho de outras milhares de pessoas), você quer ter ele e mais todas as outras pessoas que te dão mole.
No final da história M não aguentou as faltas de W. que se iludiu com quantidade e se esqueceu da qualidade. Os vínculos, mesmo os mais fortes, tem limites de existência. Não da para esticar demais que eles partem.
W. Infelizmente, não faz ideia da besteira que ta fazendo. Só a gente, os amigos, que estamos de fora, vemos o que esta acontecendo de verdade. M, meu amigo fofo, ta com o coração partido, mas pela pessoa fantástica que ele é, assim que a ferida no coração estiver cicatrizada vai encontrar um cara muito melhor e muito mais merecedor de quem ele é do que W.
Queria escrever sobre isso para que as pessoas pensem um pouco nas atitudes, repensem com um olhar critico o que elas chamam de desejo e de felicidade. Brincar com o sentimento das pessoas é feio demais, é doloroso demais, é triste. No final das contas, as pessoas não pensam que a velhice chega, que os corpos sarados também envelhecem, que o Viagra passa a ser necessário, que o dinheiro do garoto de programa passa a ser parte do orçamento mensal.
No final da estrada, as pessoas se esquecem de que o coração precisa de alimento, que a alma precisa de companhia e a mente precisa de companheirismo e parceria. A velhice chega para todos, a morte também. Em vez de usar essas frases como desculpas para sair fazendo as maiores maluquices em prol do carpe diem, as pessoas deveriam ser mais honestas com a vida, mais sensatas e coerentes. Cadê os neurônios meu povo? Neurônio não é presilha que só serve para enfeitar a cabeça não. Tem utilidade, serventia! Vamos desenvolver senso critico pensar na vida e em nossas metas, nossos ideais, mas os de verdade, não os impostos por uma sociedade louca e assassina da verdade, do amor e da real sabedoria. O que você quer para sua vida? Realidade ou ilusão? Acordem, hoje ainda dá empo, amanha talvez não dê mais!
M, meu irmão, força e coragem, você fez sua parte. As dádivas de verdade ainda estão por vir e com certeza não tardarão!