domingo, 29 de maio de 2016



Confiança

“Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas”

Confiar é uma construção complicada, mais complicada do que uma casa, do que um verso, as vezes até mais complicada mesmo que a própria vida, pois é a base de todos os relacionamentos que travamos.
Somos feitos de confiança, aprendemos desde cedo a confiar em alguém que cuida de nós, dada a nossa incompetência de nos cuidar sozinhos. Pais, mães e cuidadores, seja lá quem for que exerça a função de cuidado, aos poucos vão nos dando uma base de sustentação do que vamos posteriormente chamar de confiança. Confiar é creditar a alguém algo que nos é importante. No caso do bebê é confiar tudo, inclusive a própria vida. Depois, ao logo da vida, vamos depositando confiança no bem querer, no amor, no cuidado que os outros nos fornecem. Se as coisas fossem assim tão fáceis que lindo, mas na verdade não são.
A confiança nem sempre é construída da forma que deveria, com os ingredientes que seriam necessários e ai, a frustração é a consequência mais provável de se realizar.
Um primeiro ponto: ter simpatia por alguém não significa que essa pessoa é de confiança, logo, não pense, não fale e não haja como se vocês fossem amigos de infância. Vá de vagar, conheça quem é essa pessoa com quem você inicia uma relação, seja ela de que nível for. Não importa se no amor, na amizade ou em uma relação de trabalho o que importa é o processo.
O tempo corre, o capitalismo nos comanda sermos rápidos e diligentes, MS na verdade isso de pouco importa em termos de qualidade. Pessoas são surpresas indescritíveis. A cada dia, a cada humor, a cada fato que acontece em nossas vidas reagimos de determinada forma e nem sempre seremos aquilo que os outros esperam de nós. Cada um, com sua história de vida traz uma bagagem imensa de tudo que lhe aconteceu e não o que esperamos que ela tenha trazido. Se sem pensarmos nisso depositarmos a confiança absoluta nessas outras pessoas, com certeza iremos nos magoar e magoar o outro Tb: “ ahhh, eu tinha pensado que você era isso, que faria aquilo” o outro percebe a decepção, se chateia e o pior, se sente desqualificado por não ser aquilo que esperavam dele e ainda mais dolorido por saber que aquela pessoa nunca se relacionou com ele de verdade e sim com uma projeção, com uma idealização louca que nunca existiu.
Será assim tão difícil entender que o outro é o outro e não uma continuação de nós mesmos?
Um segundo ponto: seja verdadeiro. Não importa como você seja, mas seja vc. Se você pretende confiar em alguém é bom, que a pessoa possa confiar em você em troca. Relação é dois ou mais, quer se relacionar com você mesmo? Passe mais tempo só. Se isole num mosteiro, vá para o Tibete. Não adianta inventar uma personagem para agradar e conquistar a confiança do outro. Isso demonstra falta de amor próprio, falta de autoestima e autoconfiança. Ninguém agrada a todos e nem precisa. O mundo esta cheio de gente pronta para nos aceitar como somos.
Só vamos tomar cuidado para não transformar sinceridade em sincericídio. Tem coisas que não precisam ser ditas para não magoar o outro, para não gerar desconforto, nem ciúmes desnecessários. Pra que dizer para uma pessoa que você acabou de conhecer que você roubava chocolate nas lojas americanas? A não ser que você ainda faça isso e não pretenda parar não existe necessidade de contar isso. O relacionamento se baseia no que você faz hoje. O ontem existiu? Sim, mas ficou lá, é aprendizado, é experiência e sim, é importantíssimo para que possamos ser quem somos hoje, afinal, somos o produto da somatória de nosso passado.
Terceiro ponto: pare de agir e exigir do outro coisas absurdas. Ninguém é propriedade de ninguém, logo, não exija demais, senão o outro vai ser forçado a mentir para vc. Fora os mitomaníacos, que vão mentir compulsivamente para todos, as pessoas mentem para as outras porque o outro não deu espaço para que a verdade fosse dita. Ou cobra demais, ou critica demais, ou poda demais. Para se ter a confiança de alguém é preciso dar espaço para que essa confiança surja, cresça e se solidifique.
Quarto ponto: insegurança mata qualquer relação. Se não se sente seguro de si mesmo, vá procurar uma ajuda com amigos, parentes, psicólogos, religião, pouco importa, mas aprenda a confiar em você mesmo. Quem não tem confiança nas próprias qualidades e defeitos nunca vão ser capaz de obter a confiança do outro.
E por fim, viva, se divirta e se relacione. De preferência com pessoas reais, com o que as pessoas apresentam para você e não com fantasias e expectativas. Confiar é difícil, perder a confiança muito fácil, mas também não esqueçamos que todos merecem uma segunda chance.